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No Brasil dos privilégios, autoridades furam fila da vacina contra COVID


Por Ramiro Rosário, vereador em Porto Alegre


No país dos privilégios, autoridades furam a fila de vacinação e passam à frente de profissionais da saúde e grupos de risco. E não foram um ou dois casos. Pipocaram pelo Brasil notícias de políticos, empresários e funcionários públicos que conseguiram tomar a vacina contra COVID-19 antes dos heróis que estão há um ano na linha de frente da pandemia e dos cidadãos mais afetados pelo vírus. No momento, o Ministério Público investiga irregularidades em pelo menos 12 Estados.


Infelizmente, esse não é um cenário que surpreende. No país do corporativismo, sempre há uma categoria em busca de um privilégio e não seria diferente com a vacina que pode trazer o mundo à normalidade depois de meses de restrições. Há algumas semanas, a elite do funcionalismo, representada por membros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e até do Congresso Nacional, chegou a solicitar preferência para imunização, o que não conseguiram.


Coincidentemente, são os mesmos que pouco ou quase nada fizeram para reduzir seus próprios privilégios na pandemia, mesmo sabendo que milhões de brasileiros passariam fome por conta do desemprego, decorrente do fechamento de comércios e indústrias. Preferiram dar uma esmola em formato de auxílio a abrir mão de seus altos salários, ou da vexatória cota parlamentar - a qual nosso gabinete na Câmara de Vereadores de Porto Alegre faz questão de não utilizar um centavo. Por fim, ainda insistiram na manutenção do Fundo Eleitoral, ao invés de destiná-lo para a saúde. Péssimo exemplo à população, que tem consequência nos atos diários dos brasileiros.


Estamos tão acostumados com os escândalos gigantescos de corrupção elucidados pela Operação Lava Jato, que não percebemos nossa própria corrupção diária. Seja um privilégio que temos, mas que moralmente deveríamos recusar, ou algo pequeno, como furar uma fila quando ninguém está olhando, ou o famoso - e não por isso positivo - “jeitinho brasileiro” de resolver as coisas burlando regras. Quando nos damos conta, algumas pessoas tomaram para si uma preferência que não tinham, demonstrando zero preocupação com a vida alheia. Parece que não carecemos apenas de vacinas.

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