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4º Distrito: passado industrial, futuro de inovação.

O caminho do futuro de Porto Alegre voltará a ser a Zona Norte, nos próximos cinco anos. A região do 4º Distrito, formada pelos bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Farrapos e Humaitá, foi o pólo de desenvolvimento da capital gaúcha no século 19. Após décadas, a área volta a ganhar um papel de protagonista no crescimento da cidade a partir de um plano diretor específico para o 4º Distrito.

Foi a partir do trabalho –e da população de imigrantes operários que se mudou para perto das fábricas – que se deu o surgimento do 4º Distrito. “A cidade cresceu a partir daquela região, batizada de Caminho Novo, onde hoje é a Voluntários da Pátria, em 1824”. Ainda havia o Caminho do Meio, atual Osvaldo Aranha, e o Caminho dos Moinhos, que se transformou no bairro Moinhos de Vento.

Na Zona Norte, a Voluntários da Pátria foi o eixo estruturador do bairro. No século 19, a região é descrita por viajantes como repleta de chácaras e muito aprazível. No final do século, a Companhia Territorial Porto-alegrense loteou uma parte da região, para aumentar o número de residências, que já começavam a aparecer com a chegada dos primeiros imigrantes, que deram impulsão ao desenvolvimento.

Nos bairros São Geraldo e Navegantes, os galpões das fábricas misturavam-se às residências, tanto no Caminho Novo como nas ruas adjacentes, principalmente na avenida Eduardo, hoje chamada Presidente Franklin Roosevelt. “As pessoas não se deslocavam, elas moravam perto do trabalho.

Os primeiros a chegar foram os alemães, seguidos de italianos e poloneses, entre outros povos. A diversidade étnica levou à criação de clubes e sociedades, como a Gondoleiros, a Navegantes São João e a Polônia, que existem até hoje. Os imigrantes deixaram de legado, também, uma série de templos religiosos, como a Nossa Senhora de Monte Claro, que congregava poleneses, e a Igreja Evangélica Navegantes (hoje Igreja da Paz), que reunia alemães.

O bairro-cidade autossuficiente

A mistura de usos do bairro, com instalações industriais, ocupação residencial e presença de comércio varejista, foi um dos fatores que colaborou para o desenvolvimento do local. “Durante algum tempo, por sua estrutura e condição de autossuficiência no atendimento às necessidades de seus moradores, bem como aos da cidade, a região ficou conhecida como ‘bairro-cidade’”, conta.

O Caminho Novo começava no Mercado Público e seguia até quase o limite com Canoas, município vizinho. Na parte do Centro Histórico, suas proximidades tinham sobrados, habitados no andar superior e com lojas no piso térreo. À medida que a via avançava em direção ao norte, no entorno de onde hoje é a rodoviária, a margem do então Caminho Novo passava a abrigar armazéns de secos e molhados. “Na época, o Guaíba margeava a Voluntários, então esses comerciantes recebiam as mercadorias pelo lado do rio e as vendiam pelo lado da rua”, explica Leila. Ela lembra que, nesses tempos, não havia supermercados na cidade, e era nesses armazéns que a população se abastecia.

Outro fator preponderante para o desenvolvimento da região era a linha férrea – não a mesma que hoje faz correr o Trensurb – que ia da Capital até Novo Hamburgo, na região metropolitana. “Os principais meios de transporte da época eram o fluvial e o ferroviário, e foi justamente a facilidade de estar perto dos dois – Guaíba e trem – que impulsionou a criação de indústrias na parte central da Voluntários”, continua a historiadora.

Mas assim como a presença da via férrea e do Guaíba facilitaram a instalação das indústrias, o crescimento e preponderância do transporte rodoviário foi um dos fatores que levaram ao esvaziamento da região, comenta Leila. “Pelo final dos anos 1950, o transporte rodoviário facilitou a saída das mercadorias para locais onde antes o trem e os barcos não chegavam, então dois dos principais atrativos da localização deixaram de ser tão importantes.

 

As lembranças dos moradores
 

Mesmo já tendo nascido na época que marcou o início do declínio do bairro, Antônio Almeida, o Toninho Português, lembra com saudade “dos tempos de antigamente”: “ninguém dependia de condução, se fazia tudo a pé”. Sentado em um bar na esquina das avenidas São Pedro e Presidente Franklin Roosevelt, Toninho Português tem a ajuda do amigo Jaques Machado, o Jacão, para contar a história do 4º Distrito.

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“Isso ganhou força quando o A. J. Renner instalou sua indústria aqui (em 1914), em uma gleba grande junto ao rio”, conta Jacão com a fala mansa. “A produção foi crescendo, mais gente foi vindo morar no bairro para trabalhar na fábrica, e o Renner, que é tido como patrono do 4º Distrito, teve que construir escolas para os filhos dos funcionários, posto de saúde e tudo mais. Isso ajudou a alavancar a vida social da região”, lembra.

Ele também incentivou o esporte, interrompe Toninho. Criou o Grêmio Esportivo Renner, onde jogavam os funcionários da fábrica, que chegou a ser campeão aqui na cidade, em 1954, batendo até a dupla Gre-Nal, vangloria-se o morador.

As agremiações esportivas e os clubes sociais eram quase um reflexo do caráter multiétnico da região e organizavam os grandes eventos que mobilizavam a população especialmente o Carnaval. O Gondoleiros era dos italianos (…), o Almirante Barroso era alemão, o Vasco da Gama era dos portugueses e o Águia Branca, que depois virou Sociedade Polônia, era dos Poloneses, relata Jacão.

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