Por Ramiro Rosário, vereador e autor do Pacote Contra Corrupção de Porto Alegre
A impunidade venceu. Essa é a sensação de todos que abriram os jornais na manhã de hoje (03) e se depararam com a notícia da extinção da Operação Lava Jato, responsável por desvendar os maiores esquemas de corrupção da nossa história. O que restou da força-tarefa foi varrido para algum setor interno do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPF e a tendência é que desapareça, já que os procuradores terão que dividir a atenção com outros casos de crime organizado.
Agora digam com sinceridade: foi para isso que fomos às ruas e votamos em Bolsonaro?
Desde 2014, temos combatido incansavelmente a corja de corruptos que se instalou nas Instituições brasileiras. Não há como negar que a Lava Jato foi uma das centelhas de esperança que levou milhões de brasileiros às ruas para exigirem o fim da impunidade. Pedimos a prisão de Lula, o impeachment de Dilma Rousseff e o fim dos governos corruptos de esquerda e do centrão. Aliás, a única razão para muitos de nós votarmos em Jair Messias Bolsonaro foi o medo do que o retorno do PT representava para a luta contra a criminalidade. Ele prometia ser o candidato anti-PT e antissistema, que vinha “contra tudo o que está aí”. Vejam o que fizeram com um PGR alinhado ao stablishment, que ele mesmo colocou lá.
Em 2019, O Presidente nomeou Augusto Aras na PGR, um sujeito claramente ligado ao PT e ao Centrão, cujos únicos propósitos eram enfraquecer a força-tarefa e diminuir seu desempenho no combate à corrupção. Ele foi auxiliado nessa empreitada por um ministro do STF, que costumava ser o “amigo do amigo” de Emílio Odebrecht, o qual hoje anda de mãos dadas com Bolsonaro. Assistimos ao fim da prisão após condenação em segunda instância, ao desmonte do COAF e do pacote anticrime. Vimos um dos ícones do combate à corrupção no País, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, sendo pressionado pelo próprio presidente para interferir na Polícia Federal e “buscar informações” sobre a investigação contra o filho do presidente no Rio. Sem contar do uso da ABIN para este fim. Um escárnio.
Acordos escusos com o Centrão foram feitos, as reformas que o Brasil precisa foram sempre adiadas, e um réu acusado de corrupção e até violência doméstica se tornou o “salvador” dos bolsonaristas, contra o antigo “salvador” Rodrigo Maia. Essa é a parte mais chocante. Amigos que estiveram nas ruas comigo lutando contra a corrupção, hoje se abraçam à Arthur Lira e a outros ficha suja em defesa de uma narrativa que sinceramente não faz o menor sentido. Mas, aos poucos, eu vejo pessoas honradas acordando desse delírio coletivo e buscando lamber as feridas e se preparar para a nova luta – que continua sendo a velha luta contra a corrupção.
Os primeiros dias de fevereiro de 2021 amanheceram como o final amargo de um capítulo da nossa História. O final de uma narrativa em que os vilões dão a volta por cima após serem quase dizimados. A Lava Jato pode ter acabado hoje, os de sempre podem estar dando as cartas no Congresso, mas o combate a corrupção é contínuo, e sempre retornará. Estaremos sempre em defesa da República e do bom combate à corrupção, mesmo que pareça a vitória definitiva da impunidade.
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