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Como Porto Alegre perdeu o preconceito de ser bonita

Beleza era encarada como privilégio de lugar rico, que podia se dar ao luxo de investir em "futilidades"

A percepção do porto-alegrense sobre a própria cidade mudou. É evidente que temos problemas, alguns gravíssimos – e com frequência uso este espaço para falar deles –, mas o incômodo de viver na capital mais horrorosa do país ficou para trás.


Porto Alegre nos envergonhava, era uma cidade agonizante, caindo aos pedaços, sem qualquer atrativo que pudesse surpreender ou encantar. A classe política e a elite intelectual nutriam um curioso preconceito: o preconceito contra a beleza. Não podia a cidade querer ser bonita – isso era privilégio de lugar rico, que podia se dar ao luxo de investir em "futilidades". Era como se a beleza fosse contra os pobres, o que é uma besteira.


Primeiro, porque os pobres são justamente os que mais precisam de uma cidade interessante. Quem tem dinheiro, não: quem tem dinheiro pega um avião, desembarca em Paris, em Roma, em Nova York, e vai se servir das "futilidades" que todo pé-rapado adoraria conhecer. E os pobres, o que sobra para eles?


Bem, desde 2018, famílias inteiras se deslocam das periferias para aproveitar o sábado na Orla do Guaíba. Desde outubro do ano passado, jovens da Vila Cruzeiro dividem espaço com riquinhos da Bela Vista na maior pista de skate da América Latina. Ou seja: Porto Alegre ficou mais inclusiva e democrática quando entendeu que precisava, sim, de um espaço público qualificado, acolhedor, vibrante e – obviamente – bonito. Porque não há convivência agradável, nem orgulho possível, nem dignidade no dia a dia, se a cara da cidade é medonha.


Também não dá para ignorar que são cidades assim, interessantes e modernas, que mais recebem turistas e investimentos privados. Isso é dinheiro. Isso é emprego. Isso é renda. Isso é mais arrecadação para o governo investir em saúde, educação, saneamento, infraestrutura, segurança. E a boa notícia é que Porto Alegre recém começa a ingressar nessa nova etapa.


Dentro de cinco ou seis anos – e não estou trabalhando com achismos, nem com paixão, nem com otimismo; estou projetando friamente o futuro –, Porto Alegre enfim será uma das capitais mais entusiasmantes do país. O Embarcadero, que já recebe um público diverso (basta visitá-lo para conferir), marca só o início da aguardada revitalização do Cais Mauá, que tem edital de licitação previsto para o fim do ano.


Antes disso, em abril, já teremos outro pedaço de Orla pronto, em frente ao shopping que toma corpo no terreno do antigo Estaleiro Só. O Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Harmonia, já começa a receber as primeiras atrações de uma montanha de investimentos. Também estão por vir as obras do trecho 2, no entorno do Anfiteatro Pôr do Sol, e a já encaminhada revitalização do Centro Histórico.


Porto Alegre, devagarinho, vai nos dando orgulho, vai nos trazendo motivos para gostar de viver aqui. Porque é uma cidade que agora deseja – e que pode, como poucas – se achar bonita.




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